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domingo, 25 de abril de 2010

A força do acaso

O sino toca
E a marcha fúnebre
De cada dia
Recomeça.

Dona Maria reza
Pede proteção
E vai trabalhar...
Seus filhos na escola
Seu marido no bar

“Não está fácil!”
Reclama a Deus
Porém confia
E continua sua procissão...

Pedro acorda assustado
Olha o relógio
Está atrasado
Coloca sua roupa
Um perfume forte
E saí em disparada

Entra em seu carro
E sai em alta velocidade
Seu patrão já está ligando
A reunião já começara...

Maria caminha pelas calçadas
Agradecendo a sorte de conseguir
Um cliente perto de sua casa
Caminha pronta e decidida

Pedro liga o rádio
Pisa fundo no acelerador
Todos o amam
E o consideram um homem bom.

Maria começa a lembrar
De toda a sua vida
Sua infância perdida
A capinar no sertão
 O rosto de seu pai turva sua visão
E sua voz invade a mente:
“Vamos para a cidade! E sair dessa miséria!”
Parece que foi ontem,
Diz ela e sorri.

“Tenho que ir mais rápido”
Pensa Pedro,
Se patrão já ligara mais uma vez
O ponteiro já está a cem
Quando vê
Uma mulher atravessar em sua frente...

Maria ao terminar sua afirmação
Percebe já estar na estrada...
Pedro freia...
O destino encerra
A cena cruel.

Bombeiros...
Policiais...
Populares...
Todos ao redor da vítima.

O sangue pela estrada
A platéia assustada...

Maria apavorada Grita,
Quando vê o corpo
Do jovem rapaz
Passar, ao seu lado...
Sem vida.
Com um ar triste nos lábios.

Sua mente nem sabe
Por onde anda.
Lembra apenas de ter visto
O carro vindo em sua direção...
Os olhos fechados
Um barulho,
Como de uma bomba,
Ao seu lado...

E quando a luz
Entrou em sua retina
O poste caído
O carro amassado
O sangue
Viajaram dentro de si.

Desesperada...
Chorou...
Por tudo!
Por sua vida,
Por seu marido,
E principalmente
Por seus filhos!

Pobre rapaz...
E a culpa já penetrara em sua pele.

Um homem
Abraça-a e diz:
“Não foi sua culpa”
Ela titubeia e não aceita...
“Como culpa-la, Pela força do acaso?”
Continua a chorar...

Uma chuva fina começa a cair
Maria volta para seu lar...
A família de Pedro
Prepara o funeral...

O sino volta a tocar
Mais um dia se foi...

“Nada melhor que o tempo para curar”
Dizem as pessoas
Que dão adeus
A jovem promessa.

“ A força do acaso, Maria,
Ela é a culpada... Não você”
Diz seu marido,
Meio embriagado
E com o coração partido.

O sino novamente...
Recomeça o dia
E o fim
Já começa a ser reescrito.

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